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Análise das pressões plantares durante a corrida em esteira e no solo


WÜST, Eduardo1,2 e PALHANO, Rudnei1,3

1. Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro, Calçado e Artefatos (IBTeC)

2. Universidade Federal do Estado do Rio Grande do Sul ((UFRGS)

3. FTEC Faculdade


Resumo

Em esteira e no solo. Objetivo: avaliar as diferenças dos picos de pressão plantar de um tênis de corrida drante a corrida em esteira e no solo. Metodologia: através do sistema de baropodometria (palmilhas sensorizadas), foram adquiridos dados de pressão plantar durante a corrida em esteira e no solo, com o mesmo modelo de tênis esportivo, com velocidade controlada e igual em ambas as situações, sendo avaliada a média dos picos de pressão plantar em quatro regiões dos pés. Resultados: em relação às áreas dos pés, os picos de pressão foram maiores na região do Hálux, tanto na esteira, quanto no solo: em relação às superfícies, a corrida em esteira apresentou os menores valores dos picos de pressão em todas as regiões em comparação com o solo. Conclusão: as pressões plantares durante a corrida em esteira são minimizadas em relação às pressões na corrida no solo, isto vem ao encontro de outros estudos que abordaram a mesma temática. Este estudo terá prosseguimento, pois, é necessário realizar mais testes, com uma variação maior de modelos de tênis e um número maior de corredores.


Palavras-chave: corrida, tênis esportivo, pressão plantar, biomecânic


Abstract

Introduction: Street running has significantly increased in popularity, both in Brazil and globally, whether for health and leisure purposes, or to enhance sports performance. With this surge in participation, there is a growing need to gain a deeper understanding of the various aspects related to this sport. This includes the equipment used, the surfaces on which it is practiced, and methods for evaluating and comprehending the biomechanics of running and its variables to prevent potential injuries. One question that still requires further investigation is whether biomechanical variables behave differently when running on a treadmill compared to running on the ground. Aim: The objective of this study was to assess the differences in peak plantar pressure experienced while wearing running shoes during treadmill running and ground running. Methodology: Using a baropodometry system equipped with sensorized insoles, plantar pressure data was acquired during both treadmill running and ground running, with participants wearing the same model of sports shoes. This was done at a controlled and consistent speed in both scenarios, and the average plantar pressure peaks in four regions of the feet were evaluated. Results: Regarding the different regions of the feet, the pressure peaks were higher in the hallux region, both on the treadmill and on the ground. In terms of surface type, treadmill running showed the lowest values of pressure peaks in all regions compared to ground running. Conclusion: This study indicates that plantar pressures are minimized during treadmill running in comparison to running on the ground. This aligns with previous studies that have explored the same topic. This study will continue, as more tests are necessary, involving a wider variety of sneaker models and a larger number of runners.


Introdução


A corrida é uma atividade popular com alta acessibilidade e relativamente de baixo custo. Infelizmente, a alta participação na corrida tem sido acompanhada de uma alta incidência de lesões. Em uma revisão de vários estudos epidemiológicos, foi relatado que aproximadamente 60% dos corredores sofrem lesões por esforço excessivo durante algum momento da sua prática. Na corrida, as forças de impacto repetitivo durante o contato com o solo podem atingir uma magnitude que varia de 2 a 3 vezes o peso corporal, e são consideradas as principais causas de lesões.


Entretanto, não se chegou a um consenso com relação aos efeitos do amortecimento do calçado na redução das forças de impacto e das cargas externas aplicadas no sistema musculoesquelético. Essas razões para os resultados inconclusivos estão relacionadas a diferentes adaptações musculoesqueléticas, reações específicas do indivíduo em atividades esportivas e nível de aptidão do corredor. Enquanto isso, o mecanismo para essas adaptações ainda não é bem compreendido e estudos sistemáticos sobre o efeito do amortecimento do calçado nas superfícies são importantes.


Como as características de pressão plantar no calçado são mais sensíveis do que os dados da plataforma de força na detecção de efeitos devido a mudanças na superfície, a medição da pressão plantar tem sido utilizada para analisar essas diferenças de superfície na corrida.


É comum que estudos sobre biomecânica da corrida sejam realizados usando esteiras instrumentalizadas, devido à facilidade da manutenção da velocidade, pelo espaço físico disponível em laboratórios de pesquisa e por ser possível captar um maior número de passos, possibilitando uma análise continua do movimento; por outro lado, a análise da corrida no solo fica mais próxima da realidade de treinamentos dos corredores, que na sua maioria são feitos neste tipo de superfície.


Vários estudos relataram as características da pressão plantar ao correr em diferentes superfícies de solo, (Tessuti et. al, 2010; Hong et. al, 2012;Tillman et. al, 2002; Dixon, et. al, 2000; Marti et. al, 1988), mas os resultados ainda não têm um consenso sobre as possíveis diferenças entre os picos de pressão plantar durante a corrida em solo ou em esteira.


É importante pontuar que as simulações ou até mesmo técnicas de engenharias reversas (Jeng et. al, 2012) podem trazer uma praticidade durante a aquisição de dados contribuindo para a agilidade das respostas e resultados; porém, podem não trazer a realidade dos movimentos e dos gestos esportivos específicos da corrida realizados por esses corredores.


A hipótese de Jeng e colaboradores (2012) é que todos os parâmetros de design de um calçado de corrida, afetam significativamente o pico de pressão plantar e que existe uma combinação ideal para minimizá-la. Dentro desta perspectiva, o objetivo do presente estudo foi avaliar as diferenças dos picos de pressão plantar de um tênis de corrida durante a corrida em solo e em esteira,


Metodologia


Foram coletados dados de pressão plantar utilizando um modelo de tênis de corrida de numeração 41, sendo dez passadas no solo e dez passadas em esteira, em ambas as condições em velocidade controlada de 10 Km/h ± 5%. Participou do estudo um indivíduo do gênero masculino, 44 anos, com massa corporal de 74 Kg, altura de 173 cm e praticante de corrida de rua há aproximadamente 10 anos.


Os critérios de inclusão foram: ser praticante regular de corrida de rua há pelo menos 2 anos; ter um volume semanal de treinos de no mínimo 50 Km; calçar numeração 41.


Os critérios de exclusão foram: ter sido acometido por alguma lesão musculoesquelética de membros inferiores nos últimos seis meses da data das coletas, não ter experiência prévia em corrida em esteira e numerações de calçado diferente da numeração 41.


As coletas de dados foram realizadas no Laboratório de Biomecânica do Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro, Calçado e Artefatos (IBTeC), todas no mesmo dia e a ordem das aquisições de dados foi feita através de uma randomização, por sorteio simples, sendo coletados primeiramente os dados no solo e na sequência na esteira ergométrica.


Equipamentos

As coletas de pressão plantar foram realizadas através do Sistema PedarX, da fabricante Novel, com palmilhas sensorizadas, com 99 sensores capacitivos e software do mesmo fabricante (Figura 1).



Outro equipamento utilizado foi a esteira ergométrica. Para isto, foi escolhida uma de modelo Movement, fabricante Bruden Equipamentos Ltda. com motor de 3 hp, com controle manual de velocidade, com capacidade de atingir até 18 Km/h (Figura 2).



O tênis utilizado para as coletas durante a corrida, tanto na esteira quanto no solo, foi o modelo Nimbus 20, da marca Asics, fabricado especificamente para prática de corrida, com características de amortecimento, com soleta de borracha, entressola e palmilha de Acetato de Vinila (EVA), cabedal com material transpirável, tamanho 41, equivalente à escala nacional de numeração (Figura 3).




Resultados


Foram analisados e comparados os picos de pressão plantar em quatro regiões do pé: Hálux (dedo I), metatarsos (articulação), mediopé (arco plantar) e calcanhar durante uma corrida em velocidade de 10 Km/h ± 5% no solo e na esteira. Na tabela 1 são apresentadas as médias dos picos de pressão dos pés direito e esquerdo nas quatro regiões de interesse e nas diferentes situações de corrida.


Tabela 1. Diferenças dos picos de pressão plantar na corrida em esteira e no solo (KPa)


Verificamos que, em todas as regiões, os picos de pressão foram menores durante a corrida em esteira, comparado com a corrida no solo, a maior diferença, ou seja, aproximadamente uma redução de 33%, foi encontrada na região do Hálux (dedo I), que tem papel fundamental na fase de propulsão durante a corrida. Já a menor variação encontrada foi na região do médiopé, uma redução de aproximadamente 1%. Na Figura 4 podemos visualizar de forma qualitativa as diferenças entre os plantigramas nas duas situações de estudo e nas quatro regiões anatômicas.



Conclusão e considerações finais


Através dos resultados obtidos, podemos concluir que, para este modelo de tênis e este participante do estudo, as pressões plantares durante a corrida são maiores no solo do que na esteira, independente da região anatômica da parte inferior dos pés.


A maior diferença das pressões encontrada foi na região do Hálux, região com papel importante na fase de propulsão na corrida, o que pode ter um indício que na corrida no solo seja necessário fazer mais força na fase de propulsão, do que nesta mesma fase durante a corrida em esteira. Observa-se também que na esteira ergométrica ocorre maior tempo de contato principalmente no momento da retirada do pé do solo, o que, pode ter acarretado para a menor magnitude da pressão plantar.


Este resultado veio ao encontro do estudo de Martinez et. al (2020) que também analisou a pressão plantar em corredores na esteira, avaliando diferentes áreas do pé (antepé, mediopé e retropé), encontrando pressões maiores na região do antepé (metatarso e dedos).


Tessutti e colaboradores (2012) também encontraram diferenças nas pressões plantares nas regiões dos pés conforme o piso em que a corrida era realizada. A corrida na grama produziu picos de pressão 9,3% a 16,6% mais baixos do que as outras superfícies (pista de borracha e concreto), concluíram que a corrida em grama natural atenua as pressões plantares dentro do calçado em corredores recreativos.


Relacionando este estudo com similares da área, somos levados a crer que, independente da corrida acontecer no solo ou na esteira, a região do antepé é acometida por pressões maiores durante a prática desta modalidade de esporte e que pisos menos rígidos podem apresentar diminuições nos picos de pressão durante o contato do pé com o solo.


Para pareceres mais conclusivos, é importante que esse estudo prossiga com um número maior de corredores, e que sejam utilizados diferentes tipos de tênis de corrida, e que as medições aconteçam em uma variedade maior de superfícies.


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