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Tecnologia e design dos esportivos cada vez maispresentes nos EPIs

Luís Vieira

Ainda no último mês de novembro, a redação da Tecnicouro recebeu da assessoria de imprensa da Basf informações acerca de um calçado virtual que reúne diversas inovações. O projeto voltado para o segmento de EPI traz arrojo e conforto ao sapato de segurança e uma novidade: a primeira biqueira visível e transparente.


O conceito Limitless é um projeto lançado pela empresa em parceria com a i-generator, que oferece serviços de consultoria em design de calçados, com sede em Portland/EUA e reúne diversas inovações de materiais de performance para o segmento. Dessa parceria surge o sapato de segurança em um estilo arrojado que, ao mesmo tempo, segue padrões de conforto, flexibilidade de design e durabilidade.


O modelo é fechado e os cadarços foram removidos para evitar tropeços e quedas que, de acordo com a empresa, são uma das maiores causas de acidentes de trabalho. Além disso, por ser fechado, protege também contra respingos e permite que os usuários calcem e descalcem com rapidez. Para completar o design, o modelo é revestido em malha com fibra Freeflex, junto com faixas feitas com o mesmo material, que oferecem mais flexibilidade e resistência à abrasão. Também possui a cobertura de proteção feita de Haptex – um laminado sintético premium sem solvente.


Os avanços tecnológicos permitiram a criação da primeira biqueira transparente do setor. Fabricada com Elastollan é uma alternativa para biqueiras de metal oferecendo novas possibilidades de design para a indústria de EPIs, proporcionando um sapato mais leve, seguindo todos os padrões de segurança.


“Saúde e conforto estão lado a lado com a segurança e proteção”

Deivis Gonçalves - Gestor de Inovação do IBTeC

Para reduzir a fadiga dos trabalhadores, foi usada a tecnologia Infinergy, uma espuma particulada com propriedades de mola e amortecimento no calcâneo e na entressola. A entressola, em especial, é leve, apresentando resiliência e durabilidade. Além disso, a palmilha fabricada também com Elastollan oferece boa aderência e resistência à abrasão. “Atualmente, os consumidores buscam looks mais leves e esportivos, mas com conforto e segurança”, disse o vice-presidente de Novos Mercados e do negócio de Materiais de Performance, Gerd Manz. “Apesar do modelo ainda só existir virtualmente, temos a certeza de que a divisão de materiais de performance da Basf pode abrir novas possibilidades de design e incentivar as marcas de calçados de segurança”, considerou.


Este lançamento ilustra não somente uma tendência, mas uma realidade que já acontece no setor de calçados de segurança, proteção e ocupacional apontada pelo gestor de inovação do Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro, Calçado e Artefatos (IBTeC), Deivis Gonçalves, durante a sua palestra no Happy Hour com Tecnologia realizado em novembro na sede do instituto, em Novo Hamburgo/RS.


O evento teve como objetivo justamente apresentar as novidades observadas por Deivis durante a sua viagem à maior feira deste segmento, a A+A ocorrida na Alemanha, da qual ele participa desde 2010.


Antes de falar sobre os lançamentos, ele salientou que há muitas oportunidades neste mercado e as empresas não precisam continuar a fazer somente calçados baratos, obedecendo padrões de design com pouca criatividade. “Ao bem da verdade, não é que os calçados brasileiros sejam ruins, pelo contrário. Há muita tecnologia envolvida e uma série de normas técnicas a serem cumpridas antes de se colocar no mercado um calçado ocupacional, de segurança e proteção. Mas dá, sim, para fazer calçados mais elaborados, sem deixar de lado as normas que garantem a proteção do usuário. Porém, para se atingir este objetivo é necessário ter pensamento inovador”, defendeu o profissional, complementando com a afirmação de que algumas empresas brasileiras já estão oferecendo produtos mais arrojados.


Deivis apresentou dois vídeos, o primeiro se referia a um estudo sobre a indução de pessoas à repetição de um comportamento nada convencional para o cenário onde elas estavam, sem que questionassem o motivo para isso. O outro era uma frase escrita de forma que as pessoas ao lerem são induzidas ao erro de interpretação do texto e com isso acham que ela não está correta. Esses exercícios serviram para fazer os participantes pensarem sobre o ato de reproduzir sempre o que já está posto e também para fazerem uma autocrítica sobre se realmente fazem a leitura certa do que está diante de si. Pois ambas as situações podem levar a equívocos, inclusive nas escolhas das empresas.


“O motivo para as pessoas pensarem que a frase está mal escrita é que o cérebro humano gasta muita energia do nosso corpo para funcionar e por isso ele trabalha pra que se faça o menor esforço sempre, o que, no caso da leitura, as levou ao erro. Mas isto é uma situação que pode acontecer em diferentes circunstâncias durante o dia sem que a gente perceba. Então para que o pensamento inovador ocorra é necessário aprender a pensar diferente, para buscar sempre novas maneiras de ver uma mesma situação, e não economizar energia com o pensamento. Quando se fala em calçado de segurança, é provável que se tenha em mente algo como uma botina preta, com sola injetada, mas quem disse que tem mesmo que ser assim?”, contextualizou.


Um segmento que se reinventou

Comparando o preço médio do EPI calçado no Brasil com o valor desse tipo de produto na Europa, Deivis aponta que aqui um calçado custa em torno de 37 reais, enquanto no mercado europeu o valor salta para 39 euros (cerca de 180 reais no dia do fechamento desta matéria). Se ambos os calçados têm as certificações necessárias, comprovando toda a eficiência com relação à proteção do trabalhador, qual é a justificativa para tamanha diferença no preço? A tecnologia nos materiais, o design arrojado, o valor da marca são algumas delas.


Entre as observações de Deivis na feira, se destacam as marcas, o marketing sobre os produtos e as tecnologias embarcadas. Com relação às marcas, uma das grandes diferenças do mercado europeu para o brasileiro é que lá várias grifes consagradas no nicho de esportivos também estão presentes no segmento de calçados de segurança e proteção, oferecendo modelos muito bem elaborados, com design moderno e funcional, agregando ainda todas as tecnologias necessárias para serem certificados como EPIs.

O trabalhador europeu é muito exigente com relação aos calçados que a empresa lhe disponibiliza para a realização de suas tarefas profissionais. Ele conhece grandes marcas de calçados esportivos e as utiliza no final de semana para praticar algum esporte, por exemplo, e não quer abrir mão de todo o conforto e performance oferecido por estes produtos quando ele passa a usar o seu EPI.

Puma, Diadora, Nike e Reebok são algumas das marcas de calçados esportivos que atuam no segmento de segurança e proteção com modelagens adaptadas, agregando toda a sua expertise em design, conforto e performance que elevam o segmento safety a outro patamar. É claro que todos esses atributos também sobem o valor do calçado, por isso a diferença de preços nos mercados brasileiro e europeu são tão grandes. Então a ideia sugerida por Deivis é iniciar mirando em um setor específico, como é o caso do segmento de serviços, e lançar uma linha com atributos que realmente tenham significado para esses usuários, destacando o valor agregado pelo design para atender as necessidades destes.

“No Brasil, somos 37 milhões de trabalhadores, sendo que 16 milhões atuam na área de serviços, e uma boa parcela desses profissionais utilizam calçados ocupacionais na realização das suas funções. No segmento de hotelaria, por exemplo, as camareiras não precisam usar botinas. Elas poderiam se sentir muito mais confortáveis com um calçado moderno, que lhes proporcionasse segurança e bem-estar, e ainda por cima fosse bonito. Talvez a oportunidade possa estar por aí”, sugere.

Estabelecidas as evoluções nos calçados, outra preocupação é com relação a forma de comunicar ao mercado todas as tecnologias e informações implantadas, bem como os respectivos benefícios para os compradores e os usuários. Como a moda está muito próxima do mercado de segurança e proteção, a forma de divulgar os calçados também sofreu uma mudança. Na feira A+A, por exemplo, várias marcas apresentam seus produtos em desfiles realizados em passarelas, nos mesmos moldes de um desfile que expõe tendências da moda de grifes famosas.

“Infelizmente, no Brasil, o EPI ainda é visto mais como um custo para cumprir normas do que investimento para proteger os profissionais e aumentar a segurança no ambiente de trabalho”, lamenta Deivis, lembrando que há também a mentalidade entre empregadores de que se o calçado for muito sofisticado o funcionário vai querer usá-lo também no final de semana para passear ou praticar esportes, como se isso realmente fosse um motivo para não oferecer um calçado melhor. “Lá na Alemanha eles querem que o funcionário esteja protegido também durante o final de semana, pois isto ajuda na integridade física do trabalhador e ele vai chegar novamente bem para trabalhar na semana seguinte”, ponderou.


Tecnologias que agregam valor

Uma das marcas com lançamentos na A+A trouxe como proposta um modelo que, segundo a empresa produtora, é o mais leve dentre todos os outros EPIs calçados. Pesando apenas 285 gramas, tem solado em EVA e um outro material embaixo para garantir a resistência e proteção necessárias, além de ter biqueira em composite. “Foi feito um marketing muito grande sobre este produto destacando a funcionalidade e o estande estava cheio, pois era um calçado certificado com a preocupação adicional de amortecimento do impacto, proporcionando mais conforto ao usuário”, comentou.


Outro produto lembrado por Deivis traz um sistema de impulsão combinando materiais na palmilha e no solado para aumentar a velocidade do usuário “É um argumento de marketing, não deu para ver quão eficaz é esse sistema para o trabalho, mas ele é uma justificativa para o preço que custa e havia muito interesse também por esse produto.”


A feira oferece muitas experiências aos visitantes, como por exemplo, estandes com esteira para o comprador experimentar o calçado, outros tinham scanner que copiam a forma do pé para que se experimente o calçado mais correto, pois para cada numeração são oferecidos diferentes perfis.


A tecnologia do Knit (tricô) chegou também ao calçado de segurança, utilizando-se um fio que é elástico e conquistou aprovação nos ensaios de segurança. A realidade aumentada e a tecnologia virtual foram outras ferramentas largamente utilizadas pelos expositores para atrair a atenção dos visitantes.


Como inovar?

Diante de tudo isso, a ideia é pensar como nós, brasileiros, podemos também ser competitivos neste nicho de mercado, com produtos tecnológicos e inovadores. A solução não precisa estar dentro da própria empresa, mas talvez com algum parceiro ou até mesmo em outro segmento.


Lembrando que a inovação pode ser em produto, processo ou marketing, Deivis sugeriu aos presentes que olhassem com mais atenção também para outros setores e pensassem

sobre descobertas na área da nanotecnologia, chips eletrônicos etc. “Existe uma série de novas possibilidades tecnológicas viáveis de serem implantadas no calçado sempre pensando em torná-lo ainda mais seguro e moderno. Mas você também pode pensar em automação, robótica, logística reversa, sustentabilidade. E uma forma de ter acesso a tudo isso é através da Inovação Aberta”, comentou.


Deivis concluiu a sua apresentação lembrando que a inovação vem de várias fontes e não precisa necessariamente vir de dentro da própria empresa, e colocou o Núcleo de Inovação Tecnológica do IBTeC à disposição para ajudar as empresas na criação de produtos com inovação.

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