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Couro leva tradição e inovação ao universo dos calçados e artefatos

Imagem Tre Anytry | Luis Vieira
Imagem Tre Anytry | Luis Vieira

Por Luis Vieira


"O couro é um material nobre, de origem orgânica. Dessa forma, os produtos que utilizam couro ganham atributos de ordem funcional, estética e de posicionamento de mercado." Essa apreciação é do presidente do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), José Fernando Bello.


Na esfera funcional, ele cita propriedades que se destacam no material, como excelente capacidade de adaptação e troca de temperatura, elasticidade, durabilidade e facilidade de limpeza. Na estética e posicionamento de mercado, o couro entrega beleza, sofisticação e o poder de fazer um produto tornar-se um artigo de luxo ou mesmo uma peça de arte, que pode ser usada por gerações, evitando o desperdício e o impacto ambiental do descarte rápido. José Bello lembra ainda que a atividade curtumeira transforma as peles que seriam descartadas pela indústria e acabariam gerando um passivo ambiental.


Na indústria, o couro tem diferenciais importantes, e seu trabalho está cada vez mais aprimorado, com o apoio dos setores de máquinas e químicos. Entre os benefícios que a matéria-prima traz à manufatura, destacam-se a otimização do uso da área da pele, a resistência ao calor, a possibilidade de aplicação de padronagens, cores, efeitos e cortes com facilidade.


O executivo explica que a indústria calçadista é o principal cliente do couro brasileiro no mercado doméstico, sendo o terceiro maior consumidor mundial. “Temos uma relação centenária com esse segmento para produção em escala industrial, de modo que sempre trabalhamos em parceria para novos desenvolvimentos, inovações e entregas”, contextualiza. Ele complementa que couro e calçados estão juntos e evoluindo em pontos como aplicação de tendências de moda ao material, transparência na cadeia, acesso a registros de conformidade (como fornecedores, indicadores de consumo e parceiros indiretos) e conquista de certificações. “Ouvimos nossos clientes, absorvemos sugestões e trabalhamos para produzir couros no Brasil com as melhores práticas possíveis, com atenção aos detalhes mais precisos para atender ao que o consumidor de calçados busca”, observa José Bello.


Dados do setor


De acordo com o Estudo do Setor de Curtumes no Brasil - edição 2024, realizado pelo CICB a partir da coleta de dados do ano-base 2023, existem no Brasil 222 plantas produtivas de couros. A publicação, que pode ser baixada na íntegra, sem custo, em www.cicb.org.br, mostra que as indústrias estão concentradas especialmente no Rio Grande do Sul (75 unidades produtivas), São Paulo (43), Minas Gerais (23) e Paraná (15). Juntas, essas plantas produzem o correspondente a R$ 10,5 bilhões em couros bovinos e R$ 796 milhões em couros de outros animais.


Ranking por destinos


No ranking de destinos de janeiro a outubro de 2024, o estudo mostra que China e Hong Kong participaram, em valores, de 33,4% de todas as exportações brasileiras de couros e peles no período, enquanto os Estados Unidos receberam 13,6%. Outros destaques foram Itália (11,6%), Vietnã (10,2%) e México (5,4%).


Destinos por segmentos

Tendências para o setor no mercado de calçados


No mercado calçadista, existem marcas consagradas que atendem a um consumidor que busca produtos com mais durabilidade, com respostas às tendências de moda, mas ainda assim com a atemporalidade como atributo. O couro, assegura Fernando Bello, sempre terá espaço reservado na produção de calçados que tenham valor agregado, para pares de uma faixa de preço média e alta.


“O couro é um material insubstituível nesse nicho, que não é pequeno, nem no Brasil, nem no mundo. Há mais de uma geração que conhece e valoriza o couro, mas temos também o público mais jovem, que precisa ser sensibilizado sobre os diferenciais do couro em relação aos materiais sintéticos. Assim, entendemos que o nosso futuro se desenha em grande parte pela comunicação, aproximando mais pessoas ao nosso trabalho, ao que produzimos, às práticas no sistema produtivo e tudo o que o couro faz pelo planeta”, salienta.


Notadamente, estamos vivendo nos últimos anos uma jornada extremamente intensa de aplicação de novas tecnologias e ferramentas com vistas à sustentabilidade, especialmente no que diz respeito à rastreabilidade e conformidade na cadeia do couro no Brasil. Na opinião do presidente do CICB, essa postura nada mais é do que um posicionamento permanente da indústria, intrínseco ao propósito, convergindo também com demandas mundiais.


“Nossa dedicação sobre essa pauta é diária, presente em cada processo realizado pela indústria e os parceiros do setor, como frigoríficos, empresas de transporte, pecuária, fornecedores de químicos e as equipes dos curtumes. Como não poderia ser diferente, já colhemos bons frutos desse grande esforço, podemos avaliar pontos de melhora e seguir ajustando nosso trabalho às melhores práticas possíveis na produção mundial de couros”, afirma, finalizando com a afirmação de que as perspectivas são de crescimento. “Nossos resultados passam por trabalhar para melhorar as práticas de produção e de cadeia de fornecimento que já temos e investir em comunicação e em inteligência de mercado”, complementa o presidente.


Produção artesanal em escala industrial


CR Leather
CR Leather

Surpreender o cliente com as técnicas manuais utilizadas em uma nova peça de couro é uma das principais satisfações para o especialista em desenvolvimento de couros com alto valor agregado, Claudemir Lorenzi. Conhecido no mercado como Polenta, o profissional se notabilizou pelo desenvolvimento de criações inovadoras — tanto no design quanto nas técnicas de acabamento — que resultam em peças únicas com grande repercussão em diferentes mercados, como moveleiro e automotivo. “Sempre gosto de destacar nas coleções o toque de mão feito em atelier, mesmo nesta nova fase de produção de couro em escala industrial”, comenta o profissional, que atua com a CR Leather (fusão da Curtidora Ribeirãozinho com a Brasleather).


Como trabalha bastante com estampas, Claudemir prioriza a maciez nos couros que manuseia, e isso requer fórmulas e processos especiais, que garantem a preservação dos aspectos naturais do couro no acabamento final, além dos cuidados com a preservação do meio ambiente. Todo esse esforço resulta em materiais que trazem uma assinatura ímpar, que não deixa dúvidas sobre o que leva uma marca a trabalhar com produtos e técnicas inovadoras ao invés de seguir as tendências do mercado.


Tradição e contemporaneidade


OCM Couros
OCM Couros

A OCM elabora couros com pelo, mas coloca em cada peça a paixão que a move para entregar ao mercado produtos únicos. O presidente da empresa, Raul Oswino Müller, lembra que cada peça criada é única e reflete todo o carinho e o respeito pelos clientes.

“São couros desenvolvidos por meio de um processo artesanal, produzidos um a um, tendo como diferencial a criação de coleções que agregam beleza, alta definição, contemporaneidade e excelente corte”, pontua Raul. Para a empresa, não basta um desenho lindo se ele não for funcional e aproveitável. “Essa é a nossa grande expertise, e a inovação está justamente aí, na criação de algo único, de altíssima definição, contemporâneo e de grande rendimento”, evidencia.


O alto aproveitamento de corte torna o couro da OCM também muito lucrativo economicamente. “Num mercado cada vez mais competitivo, precisamos buscar custos ainda mais enxutos. Como o couro com pelo tem um valor agregado maior que dos couros acabados, nossa meta foi melhorar o desempenho de corte dos nossos clientes, fazendo com que a relação custo x benefício fosse percebida por eles”, conclui.


Couro translúcido

Romeu Couros
Romeu Couros

Uma das grandes novidades da Romeu Couros é o couro translúcido. “É um material com uma aparência muito diferente do que habitualmente estamos acostumados, pois esse material apresenta uma transparência, o que instiga as marcas a pensarem em novas possibilidades de uso”, destaca o diretor comercial da Casa Romeu, Rodrigo Saragiotto.


De acordo com Rodrigo, apesar dessa técnica já ser conhecida e aplicada no mercado externo, aqui no Brasil se trata de uma ideia nova para couros apergaminhados, trazendo novas possibilidades de uso, como a aplicação em abajures, além de roupas e bolsas, por exemplo.


Segundo ele, apesar do efeito original, todas as propriedades do couro, como resistência e durabilidade, são preservadas, sendo que a característica de translucidez é obtida durante o processamento da pele sem salga. “Esse efeito já é utilizado no mercado externo, mas aqui no Brasil ainda é uma novidade que tem grande potencial de uso”, reforça.


Acabamento especial para produtos sofisticados


FD Home Decor
FD Home Decor

Especializada em tapetes e acessórios em couro bovino de alta qualidade e tratamento especial para decoração, a FD Home Decor cria desenvolvimentos autorais e exclusivos com padrão premium de exportação. Além de tapetes costurados, com opções personalizadas de formas, cores e tamanhos, também fornece ao mercado uma linha de couros acabados em cores exclusivas.


Exemplo de todo esse cuidado é o couro com pelo e acabamento devorê no qual o tom turquesa se sobressai. Marcelo Froza, do setor de vendas, salienta que o material permite versatilidade aos criadores para valorizar ainda mais a marca e os produtos desenvolvidos. “É um couro vacum natural originalmente bege, branco e preto que passou por uma técnica de acabamento que resultou neste tom azulado turquesa, compondo com as cores originais e transformando a peça em uma matéria-prima totalmente nova e de valor agregado para a confecção de calçados, acessórios ou artigos de decoração, tendo como alvo marcas que primam pela sofisticação”, contextualiza Marcelo.


Slow fashion em produção sustentável

Ipadma
Ipadma

Ter uma equipe polivalente, com profissionais que conhecem cada uma das etapas da produção, é uma prerrogativa que a Ipadma não abre mão. A marca só trabalha com couro, sendo que 90% dos calçados e bolsas são elaborados em vacum e 10% em pirarucu. “Somos uma pequena empresa com produção artesanal, que atua dentro dos conceitos de slow fashion e produção sustentável”, salienta a diretora Sirlei Feiten.

Destacando que matéria-prima de origem animal não é somente para uso no cabedal, mas também nos forros e palmilhas, ela acrescenta que outra preocupação é proporcionar conforto aos usuários. “O couro é um material nobre, que veste o pé, além de ter as propriedades de transpiração e absorção da umidade”, descreve a empresária.


Com a produção atualmente distribuída no mercado interno, especialmente para boutiques do Rio de Janeiro, São Paulo e do Nordeste, que vendem roupas de luxo e o sapato, assim como a bolsa, tem a função de dar o toque final ao look, a empresa desenvolve linhas voltadas exclusivamente para o público feminino, mas também oferece calçados unissex, os quais são elaborados em grade que contempla até o número 43.


Na coleção, os artigos em pirarucu chamam atenção por terem um aspecto rústico e ao mesmo tempo sofisticado. “Este é um material que nos exige ainda mais cuidado por diferentes aspectos, como a existência de poucos fornecedores — e isso implica em um bom planejamento para que não falte a matéria-prima, uma vez que o tempo entre a data do pedido e a entrega do material é longo —, somada ao fato de não ser um material linear e as escamas terem tamanhos irregulares. Passamos a usar o couro de pirarucu por solicitação de clientes e tivemos que aprender a trabalhar com esse material, para que os pares saiam certos, o que requer adaptações nas etapas de costura e montagem, mas os resultados são incríveis”, comemora Sirlei.


Já em 2025, a Ipadma pretende iniciar as primeiras exportações. Hoje, a produção é de cerca de 1.200 pares/mês e a meta é chegar a 1.500 com as exportações. Já a projeção para as bolsas é passar de 100 peças ao mês para 150 unidades mensais.


Sapatos clássicos 100% em couro


Jota Pê
Jota Pê

A Jota Pê é uma das mais tradicionais fabricantes de sapatos e cintos de couro para o público masculino. Com produção de três mil pares/dia, todos em couro, tem o mercado doméstico como principal destino de seus produtos. Em torno de 5% dos calçados da marca são enviados para o exterior, com embarques destinados a países da América Latina, África, Ásia e Oceania.


Uma das linhas mais clássicas são os calçados em verniz, que trazem detalhes de metal dourado. “São artigos de alto luxo, 100% elaborados em couro, desde o solado, a vira serrilhada, o forro e a palmilha, confeccionados em sistema de sapataria artesanal, pensados para atender o nicho de festas e eventos sociais que exigem elegância no figurino”, frisa o responsável pelas exportações, Samuel Oliveira, lembrando que o principal mercado desses produtos é o do exterior e que a produção desses gira em torno de 100 pares por dia.


A qualidade é garantida pelo trabalho dos artesãos que atuam em cada área da produção da empresa, do corte até a montagem e o acabamento final. “São poucas pessoas que manuseiam esses sapatos, que são verdadeiras joias para calçar”, aponta Samuel. O alto padrão também está presente na paleta de cores, na qual os tons sóbrios impõem estilo a todas as coleções da marca, entre as quais o preto se sobressai, seguido pelas colorações vinho e marrom.


Neste mesmo produto premium, a empresa oferece outra linha composta por sapatos em couro de carneiro, também com solado em couro, mas que recebem dispositivo antiderrapante e podem ter a marca do cliente. A linha de acessórios é um complemento para garantir estilo ao cliente final, com cintos feitos do mesmo material dos sapatos.


Cintos e carteiras em alto padrão

Fasolo
Fasolo

Quem não conhece o slogan Fasolo, a marca que é couro? Pois é, a grife que se consolidou no mercado pela produção de cintos e carteiras masculinos e femininos com alto padrão de acabamento utiliza couro como material em 95% dos produtos, com exceção à linha Fasa, de artigos em sintético.

“Os produtos em laminados são direcionados principalmente para lojas das regiões Nordeste e do Norte. Os demais mercados buscam quase exclusivamente nossos desenvolvimentos em couro, da marca Fasolo”, aponta o gerente comercial, Leandro Rossatto.


Fasolo
Fasolo

E há várias opções de acabamento no portfólio — couros totalmente lisos, modelos com pespontos ou trançados, texturas diversas, degradês, tiras de couro soleta que preservam uma aparência mais natural — artigos estes decorrentes de processos que envolvem diferentes tipos de curtimento, matrizes exclusivas e técnicas diversificadas com o uso de produtos químicos, por exemplo.


Atendendo desde os estilos mais clássicos para ocasiões formais até looks casuais e esportivos, a empresa fabrica, a cada mês, oito mil cintos e carteiras. “O nosso carro-chefe é a tradicional linha casual e, em segundo lugar, os cintos esportivos de soleta com elástico”, comenta Leandro.

Além dos cintos e carteiras, a empresa também oferece ao mercado uma ampla oferta de mochilas e pastas. Algumas linhas têm a parte frontal em couro e o forro em material sintético.


Bolsas de luxo e para o dia a dia

Conexa
Conexa

Bolsas em couro são a especialidade da Conexa, que apresenta uma coleção com 80% das peças feitas em couro bovino. O diretor Maicon Vargas conta que a empresa se dedica a produzir tanto artigos para boutique quanto para o uso no dia a dia.

“Na coleção, há uma diversidade de opções, desde modelos em trissê feito totalmente em couro até opções também em couro, mas forradas com tecido de algodão”, destaca Maicon.


Quando iniciou suas atividades, a Conexa desenvolvia somente uma linha de produtos. Hoje, com produção estimada em 1.000 peças ao dia, a empresa, além da marca própria, atende outras duas grifes brasileiras de grande expressão, imprimindo nos produtos as marcas contratantes.


Entre artigos para festa e para o uso cotidiano, a maioria dos resultados financeiros é decorrente das linhas de produtos de maior valor agregado. “Os modelos de couro, que demandam maior investimento por parte da usuária, são os mais procurados pelas mulheres”, informa o diretor.


Um exemplo de alta performance comercial é a bolsa com armação em metal dourado e forrada com tecido de algodão. “É um dos artigos de boutique que proporcionam sofisticação aos figurinos femininos, e que estão tendo muita procura”, conclui o diretor.


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