
Quem apostaria que das cascas de cereais se pode produzir uma película sustentável com aparência de couro? Pois é exatamente isso o que a Mush tem realizado para dar um destino mais nobre aos resíduos agroindustriais do que o simples descarte. O CEO da empresa, Eduardo Sydney, diz que para cada tonelada de grãos processados são geradas duas toneladas de resíduos, ou seja, o setor produz muito mais sobras do que grãos. E este material não deveria mais ser simplesmente rejeitado, mas, sim, ser usado como matéria-prima para novos desenvolvimentos, gerando trabalho e renda, além de evitar desperdícios de recursos naturais.
Tendo esta visão de negócio com propósito, Eduardo criou a Mush, que se especializou no reprocessamento de materiais naturais como serragem, casca de trigo, casca de arroz e as sobras do beneficiamento do palmito pupunha, os quais servem como suporte para o cultivo dos fungos. “O fungo agrega as partículas e forma em sua superfície uma película, que é tratada em laboratório próprio para obter as propriedades necessárias ao uso industrial. Inclusive estamos desenvolvendo um sistema de curtimento vegetal para melhorar a resistência e a aparência do material, que se assemelha à textura do couro”, conta o empresário.
Ele lembra que em todo o processo de recuperação das cascas realizado antes da etapa de curtimento a pegada de carbono é neutra, pois se trata de uma matéria-prima resultante de um processamento industrial anterior, que já usou todos os recursos e estaria disponível para o descarte. Além do mais, os fungos, na natureza, neutralizam várias substâncias restritas, o que, segundo o empresário, é uma vantagem adicional a este produto.
Vários testes já foram realizados utilizando diferentes materiais base, como tecidos, visando a melhorar as propriedades de resistência do material, que é oferecido como alternativa para desenvolvedores de calçados, artefatos, vestuário e bijuterias que buscam criar produtos mais sustentáveis. Para isso, a Mush busca empresas que queiram formar parcerias para o aprimoramento das pesquisas em torno do material que já é utilizado por grifes internacionais reconhecidas pela pegada ecológica em seu DNA. “A Stela McCarney, por exemplo, lançou recentemente um produto com a mesma tecnologia em base PU”, exemplifica Eduardo.