Inovações de impacto no setor calçadista brasileiro
- Tecnicouro
- 27 de jun. de 2022
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Inovação de impacto: quais os caminhos para o setor calçadista brasileiro? Este foi o tema do Happy Hour com Tecnologia do Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro, Calçado e Artefatos (IBTeC), realizado no dia 30 de março. O vice-presidente executivo do instituto, Dr. Valdir Soldi, mediou a live lembrando a importância dos dois nomes convida- dos para debater o tema, duas das per- sonalidades que mais têm contribuído para a pesquisa e implementação de inovações no setor - Cenira Verona, CEO e Consultora da Salt Assessoria em Gestão Tecnológica, e Gustavo Dal Pizzol, CEO do Grupo TopShoes.
O mediador abriu a conversa perguntando a Cenira Verona o que é inovação de impacto. Para a consultora, é importante saber que inovação quando tratada academicamente é alguma coisa que se faz diferente e traz resultados. Para que haja impacto é preciso que esse resultado seja ainda mais relevante e significativo. Primeiramente ela lembrou que é muito importante poder contar com um ecossistema para fazer inovação de impacto. “É extremamente relevante que se tenha uma rede de contatos de apoio, para que se tenha capacidade de co-criação. A existência de um ecossistema aumenta a velocidade da colocação da inovação em prática. Além de agi- lizar, gera um clima que permite que mais empesas se beneficiem da mesma inovação”, observou.
Sobre o mesmo questionamento, Gustavo Dal Pizzol considerou que inovação é como uma ponte para o futuro. “O planeta está sofrendo e precisamos fazer hoje mudanças que gerarão impactos lá na frente”, disse o empresário. Segundo ele, hoje, várias questões que estão gerando inovação surgem, inclusive, da sociedade. “A internet mudou a forma de fazer negócios. As pessoas estão criando novas formas de gerar negócios”, ressaltou.
Sobre caminhos para inovar, Gustavo entende que ambientes que favoreçam o compartilhamento de ideias instigam e beneficiam a inovação. Mas há muito a ser trilhado na busca de caminhos que tornem as inovações mais assertivas na aplicação.
Cenira entende que, quando se trata de inovação, a melhor coisa que se pode fazer é “colocar a mão na massa” - colocar as ideias em teste, permitir a experimentação, para que a partir dos erros se possa chegar à solução ideal. Este caminho facilita o surgimento de parcerias que tornem a ideia viável. “Ter uma estratégia corporativa torna o caminho mais curto e assertivo. Ter um ambiente de inovação adequado, com um budget definido para a aplicação em pesquisa de inovações, é muito importante para que se tenha mudanças. Quanto mais se experimenta, mais se acelera a cultura da inovação, e mais rápidos são os resultados”, entende Cenira.
Especificamente sobre o setor calçadista, perguntou o mediador, como os debatedores veem a realidade no Brasil. Gustavo disse entender que o mercado calçadista tem um bom nível de inovação. E lembrou a impressão 3D como um dos pilares importantes para o segmento. Quando se fala em sustentabilidade, a gente tem que pensar no processo todo de produção.
O calçado está bem posiciona- do porque tem absorvido tecnologias comprometidas com a sustentabilidade, salientou. Para ele, o mercado de calçados esportivos é o que mais investe em inovação e novas tecnologias. Lembrou o 3D como uma grande evolução para diminuir tempos de desenvolvimento e novas possibilidades de oferecer performances aos calçados, a partir dos solados.
Cenira Verona afirmou que o setor calçadista pode ser considerado relativamente conservador, mas é fato que é um mercado que está buscando se atualizar. Para que isto seja acelerado ainda mais é preciso fazer ajustes ao longo do jogo, com inovações incrementais. “É muito difícil começar do zero, fazer um novo jogo. Às vezes, a melhor forma de tornar inovação mais rápida é trabalhando produtos que já se tem, a partir de agregação de valor com a implementação de novidades”, destacou Cenira. Ela também disse entender que o segmento calçadista é um pouco reticente em abandonar o seu passado e pensar em coisas totalmente novas. “É preciso que o setor calçadista se permita pilotar, para fazer coisas novas”, determinou.
Gustavo Dal Pizzol disse que talvez na prática criar novos negócios e novos produtos seja uma forma de experimentar coisas. “Quem sabe se as indústrias calçadistas possam vislumbrar outras frentes de negócios dentro do calçado, sem abandonar o que já tinham”, sugeriu.
O professor Soldi lembrou que há muitas parcerias hoje entre fabricantes de calçados e fabricantes de máquinas, como uma forma de trazer inovações. O apoio tecnológico, seja de máquinas ou ferramentas digitais e softwares, podem apoiar as indústrias na busca de inovações. E elencou a inteligência artificial como um apoio importante.
Gustavo afirmou que muitas em- presas dependem do cliente para se movimentar, e isto gera um sistema que atrasa demais o processo. “Em- presas que esperam o cliente trazer suas necessidades tendem a perder espaço importante de mercado nos próximos anos”, alertou Gustavo.
Cenira comentou que a melhor maneira de estar no futuro é estar no futuro, e não esperar que o mercado demande. “Inovação é necessária, porque com o efeito da globalização é vista em qualquer lugar do planeta. No futuro próximo, para sobreviver no mercado, a gente tem que fazer diferente”, contextualizou.
Gustavo lembrou que hoje o consumidor não necessariamente quer a posse, mas acesso a algo. Como atender esta demanda é um desafio para o setor calçadista. “As grandes empresas podem buscar parcerias com startups para inovar, porque as indústrias poderão se focar na produção e fazer a inovação em parceria com estas pequenas empresas”, exemplificou.
Já Cenira entende que comunicação de máquina a máquina (IOT), monitoramento a distância e máquinas que se autorregulem são o futuro da indústria.
Gustavo afirmou que a indústria 5.0 é definida pela informação fornecida pela máquina, que apresenta as informações que oportunizam inclusive o monitoramento da produtividade das pessoas. “O futuro é as pessoas estarem na função de pensar, enquanto o equipamento será responsável pela produção em massa. Este novo momento vai chegar, e precisamos estar preparados para isto”, sugeriu.
Cenira lembrou que startup é uma forma de fazer negócios, que precisa ser usada por indústrias que queiram inovar. E salientou que não precisa ser necessariamente uma empresa de fora; dá para fazer isto dentro da própria empresa, criando núcleos dedicados à busca de ideias. “Inovação e sustentabilidade são dois conceitos que precisam estar fundidos em uma única diretriz. Não dá para pensar nestas duas coisas separadamente”, afirma Cenira.
Gustavo lembrou que no centro de tudo estão as pessoas, tanto as que participam do processo de criação e produção, quanto aquelas às quais os produtos se destinam. “Então, o desenvolvimento humano tem que ser a próxima preocupação de empresas de todos os segmentos, para que obtenha o equilíbrio”, afirmou. O Happy Hour com Tecnologia tem como patrocinadores: Solvay Group/Rhodia, Unimed Vale do Sinos, Zahonero. Apoio da Revista Tecnicouro e do NIT/IBTeC.
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