Gerenciamento diário: a bússola humana do Lean System

Ademir Hansen

Engenheiro de Produção Mecânica e consultor internacional, especialista em Lean System

Vivemos uma época em que novas tecnologias surgem a cada momento. Automações cada vez mais acessíveis, Internet das Coisas (IoT) conectando ativos em tempo real, e a Inteligência Artificial (IA) expandindo possibilidades e ocupando nosso imaginário. É sedutor acreditar que algoritmos, sensores e dashboards “resolverão” a gestão por si sós. Porém, na prática das fábricas e operações, os paradoxos humanos continuam no centro: alinhamento entre áreas, disciplina na execução, priorização do que importa, comunicação clara sob pressão, tomadas de decisão, foco no cliente e responsabilização pelo resultado. Enfim, nada dispensa a gestão.

Embora Automações, IoT e AI ampliem significativamente nossa visão e capacidade de resposta, o fator determinante para o sucesso reside nas pessoas, que precisam ter clareza e coragem para expor problemas, disciplina para seguir e aprimorar padrões, liderança para ensinar, além de colaboração entre áreas para resolver questões sistêmicas. O GD cria o palco onde tudo isso acontece, todos os dias. Ele transforma “tecnologia disponível” em “resultado alcançado”.

É exatamente nesse ponto que o Gerenciamento Diário (GD) se destaca. Originado no Lean System - um sistema de gestão derivado do Toyota Production System, que busca maximizar valor ao cliente com o mínimo de recursos, eliminando desperdícios e variabilidade por meio de melhoria contínua e respeito às pessoas.

Em síntese: tecnologias são aceleradores; o GD é a direção. Sem direção, acelerar só faz chegar mais rápido ao lugar errado.

Elementos essenciais - GD:

- Reuniões curtas, no gemba (no local onde o trabalho acontece).

- Painéis visuais com indicadores essenciais - SQCDM (em inglês): Segurança, Qualidade, Custo, Entrega, Moral/Engajamento.

- Metas claras.

- Registro e acompanhamento de ações com responsáveis e prazos.

- Encaminhamento a instâncias elevadas quando a equipe local não resolve no dia.

- Conexão com resolução estruturada de problemas, evitando tratar sintomas e focar nas causas.

Operações que implementam eficazmente o GD tipicamente observam resultados como a redução drástica do tempo de reação a problemas, passando de dias para horas ou minutos, um aumento significativo na aderência ao plano de produção, quedas relevantes em defeitos e perdas causadas por paradas curtas não tratadas, além de uma melhoria notável na segurança, através de rotinas de verificação e bloqueios imediatos.

Passos práticos para começar amanhã:

- Defina cinco indicadores SQCDM do seu time e suas metas do dia.

- Monte um quadro simples e marque uma reunião de 15 minutos no início do turno.

- Combine a pauta padrão, donos de cada indicador e o critério de escalonamento.

- Trate três desvios do dia com cinco Porquês e registre contramedidas.

- Volte ao quadro no dia seguinte, cobre fechamento e aprenda com o que não andou.

O GD utiliza o tempo - do minuto ao dia - como unidade essencial de gestão, onde ações imediatas se encadeiam para estabilizar o turno e consolidar resultados, funcionando como a ponte entre a estratégia e a execução no chão de fábrica. Conclusão: o agora é a menor unidade da estratégia.

Tecnologia multiplica a nossa capacidade de ver; o Gerenciamento Diário multiplica a nossa capacidade de agir. É no dia, no turno, na hora, no minuto que garantimos que o futuro planejado não se perca em boas intenções. Ao reduzir a distância entre problema e ação, o GD enfraquece a ansiedade, desarma a procrastinação e cria confiança coletiva.

Reflexão final: em um mundo saturado de estímulos, o foco vira ato de coragem, e a disciplina, ato de cuidado. Cuidar do agora é cuidar do futuro. Se tudo parece grande demais, comece pequeno - mas comece agora.