Calçado Brasileiro Precisa se Reposicionar Para Reconquistar o Mercado Norte-Americano
- marciele195
- 17 de abr.
- 3 min de leitura

“Independentemente das decisões que o governo norte-americano tome, a preocupação das indústrias brasileiras de calçados tem que estar focada em arrumar a casa da porta para dentro.” Esta foi a primeira afirmação de Christian Thomas, empresário com mais de 20 anos de experiência na área de exportação e integrante do conselho estratégico do movimento The South Base (ex-Pacto Calçadista), durante o Happy Hour com Tecnologia realizado pelo Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro, Calçado e Artefatos (IBTeC), na noite de 27 de fevereiro último.
Falando sobre as perspectivas para as exportações de calçados em 2025 e nos próximos anos, Thomas e o diretor-presidente da Fenac, Márcio Jung, que também tem mais de 20 anos de experiência com exportações de calçados, defenderam a necessidade de que o Brasil se estruture para se reposicionar diante do mercado internacional. Depois de apresentar um histórico das exportações brasileiras de calçados, os dois palestrantes apontaram caminhos que levam o setor a voltar a ter protagonismo nos negócios de exportações.
O Brasil está hoje na 9ª posição como exportador de calçados para os Estados Unidos. Em 2023, o País embarcou para esse mercado 11 milhões de pares, enquanto a China exportou 1,2 bilhão de pares, sendo que os EUA absorveram 2 bilhões de pares de calçados naquele ano. “Nós não vamos conseguir reposicionar nossos produtos trabalhando da mesma forma como a gente trabalhava, e fazendo as mesmas coisas”, sustenta Christian Thomas. A receita para a mudança, segundo ele, está em tirar o foco do preço e colocar luz sobre estratégias de valor. “As mudanças começam pela requalificação das fábricas brasileiras, para que elas entendam o mercado de private label dos Estados Unidos e de que maneira precisam trabalhar daqui para a frente para que possam conquistar uma fatia maior deste mercado”, assegura.
Márcio Jung mostrou um pouco das exportações brasileiras de calçados para América do Sul, América Central e Caribe, totalizando 50 milhões de pares exportados pelo Brasil. Para os vizinhos destas regiões, os calçados com cabedal de materiais sintéticos ou de têxteis estão entre os produtos mais vendidos. O presidente da Fenac ainda enfatizou as facilidades em atender estes mercados, pela proximidade geográfica, o que permite mais agilidade para reposições, por exemplo.
Entre os dados impactantes apresentados pelos painelistas está o número que mostra a perda de espaço da indústria brasileira de calçados no mercado internacional - em 2023 o Brasil exportou 118 milhões de pares de calçados, enquanto que em 1993, 30 anos atrás, havia exportado 200 milhões de pares, segundo números da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). No mundo, foram produzidos 22,4 bilhões de pares de calçados em 2023 e o Brasil produziu 857 milhões de pares.
Para melhorar a participação dos calçados brasileiros no mercado norte-americano é necessário que o setor se concentre em conquistar espaços na fatia que consome calçados em valores acima de 150 dólares o par. Este é o nicho para a busca de espaços, acreditam os palestrantes. Para chegar neste patamar, o setor precisa investir em propostas de valor que envolvam não apenas a elaboração de custos e investimentos em modernização fabril, mas também o reconhecimento dos nossos fabricantes, por suas práticas em áreas como sustentabilidade, compliance, agilidade de entrega, entre outros fatores. O valor percebido do produto final precisa agregar também questões intangíveis, que são cada vez mais valorizadas pelos consumidores de países desenvolvidos, como é o caso dos Estados Unidos. “O Brasil precisa se reposicionar como um produtor de moda”, defende Christian.
A íntegra da live do Happy Hour continua disponível e pode ser assistida nos canais digitais do IBTeC (www.youtube.com/ibtecbrasil) e (instagram.com/ibtecbrasil).
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