No universo da moda, assim como as novas técnicas de tingimento mais sustentáveis, os filmes e tecidos de origem biológica (curtimento de folhagens, uso de fibras vegetais, colônias de fungos e bactérias) são grandes avanços científicos, especialmente no que se refere à redução dos impactos ambientais.
Foto divulgação
Fibra de bambu se tornou opção para o mercado de tecidos
Com o avanço da biotecnologia, surgem novos tecidos capazes de proporcionar mais conforto e praticidade ao dia a dia. Um desses materiais é a fibra de bambu, conhecida por absorver quatro vezes mais umidade em comparação a outros tecidos, como linho e algodão. A Camesa, marca especializada em artigos de cama, mesa, banho e decoração, tem em seu portfólio o protetor para colchão impermeável Bambu Blend. Com sua superfície de fibra de bambu respirável, a peça é um regulador natural de temperatura, com ação antimicrobiana e tecido extra macio com rápida absorção da umidade. Segundo a empresa, os tecidos produzidos com fibra de bambu têm um toque macio, semelhante à seda. Uma das vantagens da trama é oferecer uma estrutura porosa, que favorece a evaporação da umidade. Assim, a pele respira melhor e gera uma termorregulação - fator que equilibra a temperatura corporal e proporciona uma noite de sono tranquila. Outras vantagens são o material ser um vegetal abundante e de fácil plantio, capaz de resistir a diversos climas e está presente em diferentes regiões do mundo.
Laminados oriundos da ação de fungos
Utilizando-se da técnica de cultivo de fungos, a Mylenium, subdivisão da startup Mush, produz um biotecido sustentável para diversas aplicabilidades, especialmente em artigos para a moda, como bolsas, calçados e roupas. O sócio-fundador, Antônio Carlos de Francisco, e a pesquisadora, Victória Vieira Kopp, explicam que o desenvolvimento é fruto de um ano de pesquisas, testes e aplicações. Segundo Antônio Carlos, as sobras resultantes do processo de beneficiamento do material natural - o qual é constituído a partir da ação de fungos alimentados com resíduos orgânicos, como serragens, palhas e grãos - podem ser utilizadas como biofertilizantes. Victória enfatiza as propriedades de maleabilidade, resistência e tração do material. Outras vantagens, além da pegada de carbono, é que para o curtimento não são usados produtos químicos, como o cromo. As cores podem ser naturais do próprio material ou tingidas, e o material poder ser impregnado em base de tecido ou dublado.
Stella McCartney usa fibra de bananeira em bolsa
Foto divulgação
A estilista Stella McCartney criou um modelo de bolsa feita a partir de fibras de bananeira. O acessório é feito do material batizado de Banantex, um tecido durável e impermeável que é, segundo a grife, “totalmente natural, circular e sem plástico”. O Banantex é produzido a partir de fibras de bananeiras Abacá cultivadas nas Filipinas. Ainda de acordo com os responsáveis pelo material, as bananeiras são autossuficientes, não necessitando de pesticidas ou fertilizantes, e a espécie é abundante no ecossistema local, com cada planta oferecendo vários caules que podem ser colhidos anualmente antes de se regenerarem totalmente no espaço de um ano. Conforme a grife, o tecido usado pode ser transformado novamente em polpa e depois em papel, que pode voltar a ser fio.
Estamparia natural com sementes e folhas
Foto Luís Vieira
A estilista Ludmila Heringer desenvolve estamparias botânicas, numa técnica que consiste de usar folhas de plantas e pigmentos naturais para imprimir desenhos em tecidos. Sementes de urucum e folhas de pariri, uma planta medicinal, servem de matérias-primas para a realização da técnica. Explicando que cada fibra necessita de uma preparação especifica para cada tecido que terá a estampa impressa, ela conta que as folhas e ou sementes são embaladas no tecido, e todo o material é colocado para vaporizar. “Este processo é semelhante a um carimbo, através do qual se produz estampas únicas”, ilustra a estilista. Trabalhando com tecidos como viscose, cetim, seda e algodão 100%, Ludmila busca usar materiais certificados para compor os tecidos que depois de estampados servem de componente para as roupas e confecções de marca própria.
Biotecido gerado por bactérias
Foto Luís Vieira
Pensando no futuro da confecção em um mundo sustentável, a Dumeio se utiliza de tecnologia de biofabricação para a criação de peças exclusivas e biodegradáveis a partir da cultura de bactérias que produzem o Kombucha. O Kombucha é uma bebida fermentada feita a partir de chás, como o chá preto ou chá verde, adoçados, contendo uma cultura de leveduras e bactérias, conhecida como Scoby. Essas bactérias se desenvolvem em cultivo se transformando em filmes que depois de processadas se tornam laminados biodegradáveis. Lembrando que todo o processo é biodegradável, a sócia e diretora de marketing da startup, Morgana Stegemann, conta que foram necessários dois anos e meio de pesquisas e desenvolvimento para chegar a um sistema de beneficiamento que assegurasse resultados satisfatórios, garantindo o uso do material em confecções, móveis, calçados e acessórios.
Folha vegetal curtida como couro
Foto Luís Vieira
O curtume Nova Kaeru lançou o BeLaf, um material vegetal, 100% orgânico, oriundo das folhas da planta alocásia - orelha de elefante, cujo resultado final apresenta propriedades semelhantes às matérias-primas animais. Gabriel Tardin, do Setor comercial da empresa, conta que o processo de curtimento da folha é o mesmo realizado para pele animal, com algumas variações técnicas, resultando em um sistema de bio curtimento. Inicialmente ofertado para uso em artefatos e vestuário, busca também cativar a indústria de calçados. “É um dos materiais mais inovadores e ecológicos já criados. Além de ser uma matéria-prima biodegradável, que exige pouco do meio ambiente em comparação aos materiais tradicionais e elimina a pegada de carbono de sua produção, fornecendo O2 para a atmosfera, os seus resíduos orgânicos são compostados e utilizados como nutrientes do solo, ajudando a preservar o bioma, a fauna e os cursos d’água”, pontua.
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